quinta-feira, 30 de agosto de 2007

CALCIO - O Dilema Adriano


Na mais normal das equipas, há dificuldade em preencher todas as posições com jogadores de indubitável qualidade, noutras há dificuldade em rechear o banco com opções técnicas à altura das titulares e, num pequeno grupo de equipas, há demasiada fartura.

Dentro desse lote encontra-se o Internazionale Milano, equipa que passeou na época transacta pela Série A, tendo como único rival sério a estóica Roma.

Diz-se desta equipa que tem dos melhores plantéis do mundo, e sinceramente, não me cabe a mim discordar. Nomes como Materazzi, Zanetti, Maicon, Chivu e Córdoba dão uma consistência mais que considerável à defesa (veja-se a quantidade mínima de golos que a equipa sofreu a partir do primeiro quarto do campeonato), o meio campo é composto por nomes que dispensam apresentações como Cambiasso, Vieira, Figo e o incansável Stankovic e o ataque, bem, o ataque é ridículo.

Já sem contar com Recoba, menino bonito do presidente Moratti a quem todos reconhecem a genialidade mas que foi consecutivamente ignorado pelos treinadores, o Inter apresenta 5 pontas de lança : Ibrahimovic, Adriano, Suazo, Crespo e Júlio Cruz. Lembro que Mancini utiliza, no máximo, 2 pontas de lança no decorrer do jogo.

Ibrahimovic é sem dúvida a coqueluche da equipa, tendo feito um campeonato excelente, com golos, assistências e momentos mágicos. Suazo é a nova aposta da equipa, um muito rápido e forte ponta de lança oriundo do Cagliari, alvo de disputa entre os dois emblemas de Milão. Crespo foi o melhor marcador da época passada, não obstante as duas pequenas lesões que teve, e Cruz, dá garantias absolutas de eficácia: normalmente, quando entra, marca.


Resta-nos Adriano, o possante atacante brasileiro, cujo talento o havia tornado titular da selecção canarinha e reconhecido mundialmente como um dos mais talentosos pontas de lança do panorama internacional.
Depois do desaire do Mundial, Adriano pareceu envolver-se numa crise interna de confiança, crise essa que o fez regressar ao Brasil, com autorização de Mancini, alegadamente para se recompôr. Chegou, ao que pareceu, uma pessoa nova, dando graças a Deus pela nova oportunidade que o Inter lhe tinha dado. Alinhou, pouco depois, contra o Chievo, tendo marcado um excelente golo. Depois disso, a falta de forma e a existência de melhores opções determinaram a sua quase nula utilização no restante da época. Quando se pensava que iria voltar em força nesta época, que iria provar a toda a gente que o gigante Adriano não tinha adormecido, Mancini aparece a dizer que os problemas continuam e que, provavelmente, o melhor é mandá-lo para um clube onde possa jogar regularmente e não esteja constantemente pressionado pela luta por um lugar (tradução quase à letra das suas palavras).

Até que ponto é que uma equipa pode chegar em que o talento de um jogador como Adriano é posto de lado por uma simples crise existencial? Estamos a falar de um avançado de excepção, com garra, força, velocidade e um pé esquerdo mortal, mas que, à face da concorrência, é vulgarizado. Não há que culpar o Inter por esta situação, o clube apenas faz o que serve melhor os seus interesses, e na verdade, Adriano é, neste momento, a pior opção. O que é facto é que toda a situação parece ridícula, parece obra de uma previsão hiperbólica, de uma anedota de café : "Imagina uma equipa tão boa, tão boa, que dispensa o Ronaldinho.".

Chegámos, sem dúvida, a níveis de competitividade enormes nas equipas europeias de topo, e receio que, na ânsia de os melhores fazerem sempre parte das melhores formações, de se formarem equipas desequilibradas dada a dimensão dos nomes que acarretam, grandes talentos se percam, e grandes jogadores decaiam por força de uma excessiva pressão no próprio balneário.

Senão olhe-se para a situação de Deco...

2 comentários:

Pedro_Pereira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pedro_Pereira disse...

O nível do futebol Europeu/Mundial e o negócio que está instaurado em cada Clube (mais uma S.A.D.) obriga a que se façam apostas milionárias e que se constituam planteis de luxo!

No entanto, existem casos que se vulgarizam posições no terreno de jogo (normalmente mais recuadas) em detrimento de outras (normalmente as das linhas avançadas)! Isto porque são os jogadores mais caros, que mais camisolas vendem, que mais espetáculo dão dentro de campo e que mais estádios enchem...Tudo em prol do negócio...

Pois bem, já estamos fartos de ver casos em que existem grandes equipas do meio-campo para a frente com grandes excutantes mas que não têm uma defesa que lhes sustente essa propensão atacante! Muitos "zidandes" e muitos "rauls bravos"... equipas claramente descompensadas...

Quero com isto fazer uma ponte para o caso de Adriano. É um caso de fartura na linha avançada sem que se descure a defesa ou o meio-campo! Mesmo assim, ter 5 pontas de lança num plantel é exagerado! Principalmente porque, em condições "normais", todos são "titulares indiscutíveis"! É nesta linha que Mancini diz, e bem na minha opinião, que pode prescindir de um dos magníficos avançados que tem.

Quanto mais não seja para investir noutros sectores "envelhecidos" como é normal no campeonato italiano.

É o negócio a funcionar...os melhores ficam, os razoáveis têm oportunidades e os insuficientes abandonam o barco. E o Inter até é um clube "caridoso" no que toca a dar oportunidades...basta ver a situação do Ronaldo!

Penso que Mancini está a defender os interesses de todos...inclusivé os de Adriano.

Abraço,
Pedro Pereira